sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Com licença

Sai de meu caminho. É minha. É minha esta avenida. São minhas essas ruas. Quando tua mãe ainda experimentava a menarca eu aqui já gastava solado sobre essas lusas pedras.
Vês essa loja de departamentos onde vendem-se artigos descartáveis? Aqui já operou um centro cultural onde doavam-se e trocavam-se ideias perenes.
Achas teu jeans o ápice da modernidade em estilo? Pois sabe que muito sucesso ele fez em 1984, muito antes do Big Brother do Pedro Bial, bem depois do Big Brother do George Orwell.
Não me formei em 1981 com o já famoso Calixto, mas sou também um veterano, da turma de 1996.
Tem paciência, pois é por pouco tempo. Espera pelo meu desvanecimento que é iminente. Não te enganes com meus bíceps. Os joelhos não são mais os mesmos. Os solados já duram mais. As lusas pedras já se impõem contra minha cinética discretamente claudicante.
Aguarda até que eu esteja invisível. Até que minha imagem não mais consiga prometer aquilo que queres e que achas que estou pronto para te dar fortuitamente.  Olha para o lado. Ele também acha esse jeans o ápice da modernidade. Ele também adora assistir ao BBB, idolatra o Bial e ignora o George.
Segue em frente, mas sai de meu caminho. Não compreenderias as tatuagens em minhas costas, sequer conseguirias ver aquelas em meu peito, marcadas pelo Senhor Tempo. Não tenho tempo para explicações. Tenho urgência de realizar o que ainda não dei conta.
Seguirei daqui, rumo às ruas transversais cujos nomes, manhas e histórias tu ainda desconheces.  
Não te enganes. O dia chegará em que teu femoral repuxará e tentará impedir teu avanço. Até lá, entretanto, haverá poucas ruas, vielas, travessas e avenidas desconhecidas a ti. Desejarás o aconchego do familiar e repudiarás as balelas e frivolidades do novo.
Agora trata de apressar-te para que não percas o metrô, que já foi muito mais rápido e mais confortável. Mas disso tu não sabias e isso provavelmente jamais testemunharás. Não te entristeças, pois há um universo de parangolés familiar a ti e estranho a mim.
Segue em frente, mas por favor, sai da minha frente.  

8 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Muito intenso, sempre, em tuas crônicas de si mesmo...gosto de ler a sua euforia literária, tens muito talento.

Cristiano Contreiras disse...

Qual teu msn?

Nalva disse...

Muito obrigada pelo comentário em meu blog. E sim, acredite: a Sra. Dream Week (kkkkk...adorei essa!), estava elogiando as gordinhas! Uma demagogia de encher os olhos!
E parabéns pelo seu blog também! Achei muito interessante! Vou ficar espiando!
;)

Teófilo Andrade disse...

Antonio, caro: as suas palavras poderiam ser minhas. Você ainda nem chegou aos 40, filho! Falta muito ainda para que você se torne invisível. Seus textos são sempre de uma profundidade machadiana.

Ana Carolina Dias disse...

dá licença, né antonio? kkkkk amei.

Leandro blogger disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leandro blogger disse...

“Mexeu com amigo meu mexeu comigo”
Esse é o ditado meu caro.
Muitas das ofensas dirigidas aos outros serve a nós, como uma luva, isso que acontece quando temos motivos “mil”.
E agente fica assim no fundo se sentido incomodado.

Mais de qualquer forma e sempre bom ta vazão aos sentimentos, só não vale da pancada.
Você garoto é de uma espontaneidade com as palavras absurda.

Antônio... Parabéns!

Anônimo disse...

Primeira vez no blog! ^^ gostei do que vi! =]