sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Até mais, J.D. Caulfield!



Um dia fui como Holden. Você, Salinger, conseguiu plasmar em um personagem muito do que eu sentia e parcialmente vivia.
Li Catcher três vezes e, ontem, ao saber de sua partida, senti vontade de lê-lo novamente. Não sei onde deixei meu exemplar, mas certamente o encontrarei. Aprendi muito inglês com você e seu estilo elegante e simples. Aprendi muito a lidar com minha rebeldia e meu sentimento de não pertença. Ontem fiquei pensando em você, encarapitado em sua solitude povoada. No alto já estava e no alto continuará. As planícies rasteiras não lhe pertencem. Estará sempre tocando as nuvens. E eu, aqui em baixo, continuarei explorando esses campos de centeio. Vá com Deus, seja lá o que isso queira dizer.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Suspense de Qualidade


Suspense para mim é isso. É difícil fechar o livro na boa. Jonathan Kellerman presenteou-me com esse tipo de experiência. Em Twisted, cada página revela uma nova possibilidade, nova trama. Personagens bem elaborados, história bem engendrada. Delícia de livro. Parece que estamos assistindo a um filme. Petra Connor, assistente do psicólogo Alex Delaware em outros livros de Kellerman, se vê às voltas e come um dobrado com o estagiário, menino prodígio Isaac Gomez em suas tentativas de descobrir o que está por trás dos assassinatos de tantos adolescentes. Delicioso!!!

Uma História de Amor


Todas as manhãs Artur levava o pênis para passear. Chamava-o de Rex. Adorava quando a mulherada parava para brincar com seu pênis querido. A vida ficava sem graça se ele não levasse o melhor amigo para dar a volta matinal.
- Que pênis mais lindo! - diziam algumas.
- Que coisa peluda mais gostosa! - exclamavam outras.
- Qual é a raça? - perguntavam todas.
- Basset hound, o famoso salsicha - respondia ele, sempre orgulhoso.
- Nossa, que salsichão! - constatavam as mais empolgadas.
Um dia, Artur e seu pênis encontraram-se com Mariana, que levava os seios para tomar um sol e fazer as necessidades. Turbinados, chamavam-se Fofinho e Docinho. Numa conjunção tempo-espacial perfeita, Rex perdeu-se naqueles lindos poodles e neles ficou imerso, feliz. Um salsicha peludo e teso, fundindo-se na alma de dois poodles turbinados.
Concluindo que não seria possível viver longe um do outro, Artur e Mariana decidiram juntar-se e prometeram amor eterno.
Depois de um tempo, entretanto, Rex quis dar uma volta. Ficara muito tempo preso e precisava tomar um ar. O ar da liberdade. Sentia falta de outros olhares de admiração. Necessitava ser acariciado por outras mãos. Por mais que tentasse, Artur não conseguiu segurar a fome de Rex. E lá se foram os dois, felizes da vida, prontos para os elogios de novos olhares.
E os poodles turbinados? Vejam vocês, que coincidência: esses dois já andavam passeando pelos parques da cidade havia um bom tempo. Rex já não os entretia como antes.
Coisa de cães. Coisa do cão.



segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Pá no Pó


É preciso mudar. Na minha idade, já não dá mais para varrer o pó e escondê-lo embaixo do tapete, por preguiça de pegar a pá, pendurada lá na área de serviço. Preguiça ou medo. Talvez medo de encarar o pó e, como Lourenço, que temia ser responsável pelo fedor que vinha do ralo, descobrir-se autor de tanta sujeira. Andamos. Saímos. Abrimos as janelas. O pó é meu.

Não mais conviverei (cá estou eu com meu tom fatalista e decisivo) com a poeira que produzo. Aspirá-la-ei, varrê-la-ei, jogá-la-ei fora. Não mais ficarei em meio a tanto serviço pela metade, muito menos insistirei nas mesóclises. Não mais permanecerei no meio, sentado no muro. Se der empate, é zebra. Coluna do meio nem a pau. É pá.

Começarei pelos pseudo-amigos. Que se danem os hífens e suas novas regras. A regra agora é simples: amigo não tem meias palavras. Posto que meias palavras refletem falta de intimidade. Como pude um dia, tão despudoradamente, ser sincero com você, pseudo-amigo? Só para descobrir, mais tarde, que você ocultava razões e motivos, tão pequenos e mesquinhos, tão singelos e pueris. Tão... medíocres. Não é e nunca foi meu amigo. Para você o que importa é número. Quantos batizou, quantos apadrinhou, quantos lhe querem bem. E você? Quer bem a quem? Seus números me mostram o que para mim estava claro havia muito: seu lugar é na pá e não embaixo do tapete. Deus me perdoe pelo pó acumulado!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Caldeirão Familiar e os Terremotos no Haiti


Os móveis em meu apartamento estão na mesma disposição que seis anos atrás. Muito mais que um estilo de vida, esse fato é um sintoma, um sinal de quem eu sou. Por mais que eu tente me enganar com a ideia de que a flexibilidade está presente em meu caráter, no fundo sei que é uma enorme tolice. Filho de pai militar e de uma mãe cuja intransigência anda de mãos dadas com a arrogância feito duas primas egípcias (e, com o passar dos anos, essas duas mais parecem patas chocas), meu legado de rigidez praticamente acompanha-me o código genético.

Não vejo a hora de trocar o sofá – que comprei em 2002 -, mas o novo não ocupará outro lugar senão o mesmo do antigo. Essa história de lugar é coisa séria, sobretudo para quem aprecia com certa frequência a experiência ébria. Depois de um tempo, parece que o cérebro desenvolve um afeto ao entorno de tal forma que, quando embriagado, o danado se recusa a reconhecer novos layouts e insiste, como de pirraça, a orientar o bebum segundo as antigas disposições. Canela roxa é o resultado mínimo desse processo.

Ontem fiquei imaginando minha irmã Iara, grande herdeira das esquisitices de minha mãe – ela não admitiria isso nem com um revólver apontado para sua cabeça – reagindo aos terremotos no Haiti. Iara, que se borra de medo de mudar o status quo, foi batizada em homenagem à rainha do mar, mas na verdade é a rainha do Não Façam Marolas Social Club S.A. Flexibilidade é uma palavra que quando ela pronuncia, expele uma baba espessa pois sua língua engrossa e é repuxada para a garganta, conferindo-lhe um aspecto de louca. Sua filha, que já tem 28 anos, linda de dar friozinho na barriga, não pode namorar. Quer dizer, poder ela pode, mas a rainha louca pira. Todo e qualquer namorado que sua filha arranja é viado. Iara não pensa duas vezes antes de tentar sabotar os relacionamentos da filha. Quando o namorado não é uma bicha, o problema é da pobre Ana que é uma vagabunda. Talvez a tsunami de hormônios vivida pela jovem lembre à mãe do deslizamento de terra, pele e papa que ela vem experimentando.

Minha irmã mais velha é provavelmente a que menos parafusos tem fixando o cérebro. É louca de enlouquecer qualquer um. Foi a primeira vítima das alucinações fantasmagóricas de minha mãe, que a batizou de Uiraçaba, nome inspirado numa palavra usada por José de Alencar em seu romance não menos louco e incompreensível -Iracema (Alencar jurava tê-lo escrito em língua portuguesa.) A inflexibilidade de minha irmã chega ao extremo de ela não querer que ninguém a visite para não desarrumar a casa. Seu apelido entre nós é “A Louca da Torre”.

Meu irmão tem tanto medo que mudem seu mundinho que se trancafiou em algum buraco e não sai de lá há anos. Faz muitos anos que não o vejo. Creio que ele tenha criado raízes no chão e crescido como um carvalho.

Somos todos muito inflexíveis, temerosos e covardes. Só não perdemos o rebolado e ai de quem tente derrubar nossas máscaras de corajosos. O tempo escurece. Rola até furacão, mas é tudo muito mais barulhento do que prejudicial.

Queria ver essa família viver o caos que os haitianos enfrentam agora. Pó de merda é o que viraríamos, revelando-nos integrantes da famosa família do João Cocô.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Beijo Bandido

Imagine ir ao cinema assistir a um filme do Michael Moore e dar de cara com uma homenagem descabida a George Bush. Foi assim que eu me senti com o espetáculo Beijo Bandido que Ney Matogrosso estrela no Canecão: chocado.

Não seria correto dizer que compareci a um show do cantor, mas a um recital melancólico de cortar os pulsos. A sessão de torturas foi aberta ao som de Tango para Tereza e daí o rosário de lágrimas estendeu-se até cerrarem-se as cortinas.

Contido, quase um clérigo em seu costume bege e camisa branca, Ney muito mal explorou o palco. Alguém na plateia, já abrindo a embalagem da lâmina, gritou:

- Tira a roupa!

Era um grito de misericórdia com certeza.

Contorci-me até a última canção, tentando me concentrar na belíssima voz do cantor, mas senti-me traído. Não é esse Ney Matogrosso que está no inconsciente coletivo. Não me refiro a plumas e paetês, mas à vibração, à alegria contagiante tão presente nas músicas que ele interpreta e que chegam às rádios, às trilhas sonoras e por aí vai.

Quem curte alimentar mágoas, “dramalhórdias” baratas e adora ruminar as dores do passado, não pode perder essa pérola!

Infelizmente não consegui pelo menos a metade do ingresso de volta – que paguei inteiro, pois devo ser um dos poucos que não têm carteirinha de estudante falsificada neste país bandido.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Moving ahead




Os planos. Os projetos. Eles nos afastam da insanidade. Como é bom acordar com a sensação de poder continuar tentando. É muito bom ter o que tentar.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Esta tem um cheirinho de fim de semana!

Não parei de tocar esta música a semana inteira. Soa como um convite para sair, dançar, ver gente bonita.


sábado, 2 de janeiro de 2010

O Lixo do Luxo

É como diz Dona Shirley: “Boa romaria faz quem em sua casa fica em paz”. Não concordo cem por cento com o ditado, mas em momentos como esses que vivemos agora, até que faz sentido. Abri o jornal enquanto cortava o cabelo e li as diversas matérias dedicadas aos deslizamentos de terra ocorridos em Angra dos Reis. Um grupo de colegas da Faculdade Federal de Minas encontrara-se ali para festejar a passagem do ano e, dos oito, três não voltarão para casa com vida.

Fica sempre a pergunta: teria sido tal evento totalmente imprevisível para os donos dessa pousada “de luxo”? A impressão que tenho é de que esses caras só pensam no lucro. É como o que ocorre no Metrô Rio. A dignidade só voltará aos serviços desse transporte – que é bem caro, diga-se de passagem - depois que houver alguma desgraça. Qualquer criança na terceira série entende que é loucura deslocar o mundaréu que se aglomerava na estação Estácio para a estação Glória. É tudo uma questão de espaço! A plataforma da Glória é mais estreita, dá para entender ou preciso desenhar? E outra: quiseram popularizar os serviços, mas não tinham – e ainda não têm – estrutura para dar conta da ampliação. Dignidade saiu pela janela – aquela que o povo AINDA não quebrou, mas que faço votos que quebre.

O jeito é tentar permanecer numa mínima zona de conforto: pegar um ônibus ao invés do metrô. Fazer programas próximos de casa. Questionar sempre o “luxo” que oferecem. Aliás, eis uma prática que utilizo já há algum tempo. Recuso-me, por exemplo, a frequentar lugares badalados. Fui a um bar “descolado” sábado passado e devolvi DUAS caipirinhas. Como posso pagar 17 reais por uma porcaria mal feita? Fila em um restaurante? Passo para outro. Espera para sentar-me numa porcaria de mesa em um bar para encher a cara? Tô fora. Como já dizia o grande escritor: “A unanimidade é burra”. Não há NADA no Jobi, no Mian Mian ou no Bracarense que justifique uma fila de espera. Quanto mais lotado o bar, pior a qualidade da caipirinha. E quanto maior o número de frequentadores que só enchem a cara de cerveja, maior a incidência de gente mal educada e menor a incidência de gente bonita – não há beleza em gente barriguda, faz favor. Prefiro ficar em casa ou ir ao meu bar preferido – onde é servida a melhor caipirinha do Rio de Janeiro, onde não há fila de espera e cujo endereço não dou nem a pau.

Fico triste por quem pagou uma nota preta para morrer soterrado. Fogo nos donos dessa “pocilga de luxo”. E para quem insiste em esperar nas filas para comer ou beber, lembre-se: vale a pena fazer uma visita à cozinha desses lugares. É imprescindível. E não acredite no povo que se aglomera para comer. Poucos são “locais” e muitos estão ali só para “sair na foto”. Deus me guarde da hora!