Imagine ir ao cinema assistir a um filme do Michael Moore e dar de cara com uma homenagem descabida a George Bush. Foi assim que eu me senti com o espetáculo Beijo Bandido que Ney Matogrosso estrela no Canecão: chocado.
Não seria correto dizer que compareci a um show do cantor, mas a um recital melancólico de cortar os pulsos. A sessão de torturas foi aberta ao som de Tango para Tereza e daí o rosário de lágrimas estendeu-se até cerrarem-se as cortinas.
Contido, quase um clérigo em seu costume bege e camisa branca, Ney muito mal explorou o palco. Alguém na plateia, já abrindo a embalagem da lâmina, gritou:
- Tira a roupa!
Era um grito de misericórdia com certeza.
Contorci-me até a última canção, tentando me concentrar na belíssima voz do cantor, mas senti-me traído. Não é esse Ney Matogrosso que está no inconsciente coletivo. Não me refiro a plumas e paetês, mas à vibração, à alegria contagiante tão presente nas músicas que ele interpreta e que chegam às rádios, às trilhas sonoras e por aí vai.
Quem curte alimentar mágoas, “dramalhórdias” baratas e adora ruminar as dores do passado, não pode perder essa pérola!
Infelizmente não consegui pelo menos a metade do ingresso de volta – que paguei inteiro, pois devo ser um dos poucos que não têm carteirinha de estudante falsificada neste país bandido.
2 comentários:
Acho que vc foi ao show sem ter lido nada a respeito. O Ney costuma alternar shows mais extrovertidos com show mais intimistas. Haja vista os shows "Canto em Qualquer Canto" e "Cartola", igualmente contidos. O anterior ao "Beijo Bandido", "Inclassificáveis", era do jeito que você queria.
Rita, você está corretíssima. Não li nada a respeito, e aprendi uma lição. De qualquer maneira, valeu pelo banho de interpretação que ele deu.
Obrigado pela visita!
Postar um comentário