domingo, 17 de janeiro de 2010

Beijo Bandido

Imagine ir ao cinema assistir a um filme do Michael Moore e dar de cara com uma homenagem descabida a George Bush. Foi assim que eu me senti com o espetáculo Beijo Bandido que Ney Matogrosso estrela no Canecão: chocado.

Não seria correto dizer que compareci a um show do cantor, mas a um recital melancólico de cortar os pulsos. A sessão de torturas foi aberta ao som de Tango para Tereza e daí o rosário de lágrimas estendeu-se até cerrarem-se as cortinas.

Contido, quase um clérigo em seu costume bege e camisa branca, Ney muito mal explorou o palco. Alguém na plateia, já abrindo a embalagem da lâmina, gritou:

- Tira a roupa!

Era um grito de misericórdia com certeza.

Contorci-me até a última canção, tentando me concentrar na belíssima voz do cantor, mas senti-me traído. Não é esse Ney Matogrosso que está no inconsciente coletivo. Não me refiro a plumas e paetês, mas à vibração, à alegria contagiante tão presente nas músicas que ele interpreta e que chegam às rádios, às trilhas sonoras e por aí vai.

Quem curte alimentar mágoas, “dramalhórdias” baratas e adora ruminar as dores do passado, não pode perder essa pérola!

Infelizmente não consegui pelo menos a metade do ingresso de volta – que paguei inteiro, pois devo ser um dos poucos que não têm carteirinha de estudante falsificada neste país bandido.

2 comentários:

Rita Vicente disse...

Acho que vc foi ao show sem ter lido nada a respeito. O Ney costuma alternar shows mais extrovertidos com show mais intimistas. Haja vista os shows "Canto em Qualquer Canto" e "Cartola", igualmente contidos. O anterior ao "Beijo Bandido", "Inclassificáveis", era do jeito que você queria.

Antônio Moura disse...

Rita, você está corretíssima. Não li nada a respeito, e aprendi uma lição. De qualquer maneira, valeu pelo banho de interpretação que ele deu.
Obrigado pela visita!