Não seria brutal o extremo egocentrismo de quem leva seu cão a um bar, prende-o e o deixa latindo, incomodando a paz de quem deseja conversar e tomar um drinque?
Não seria uma brutalidade deixar seu filho pequeno gritar, se espernear e atazanar a vida de quem só queria tomar um café da manhã?
Não seria brutal uma mulher, carregando no ombro uma bolsa quase três vezes maior que ela, pegar um metrô lotado e achar-se no direito de continuar carregando-a ali mesmo, sem se importar com o incômodo causado nos demais ali espremidos?
Poderíamos considerar educado um sujeito que, no mesmo metrô lotado, insiste em manter a mochila nas costas, igualmente incomodando os outros?
Com a vida em um grande centro urbano, tenho refletido bastante sobre os conceitos de Educação, Caráter e Civilidade. Creio que sejam esses os três pilares da vida em sociedade.
Anos atrás eu me indignava quando alguém deixava de dar bom dia, boa tarde ou boa noite. Hoje, entretanto, tenho testemunhado tanta brutalidade no trato social que já não me choca a “simples” falta dessas saudações.
Max Weber introduziu o conceito de ação social e Seu Antônio, meu pai, o conceito de urgência e prioridade de correção; utilizo-me de ambos para tentar chegar a uma definição de educação que não se limite ao “dar bom dia”.
Para Weber, a ação social “é orientada pelas ações de outros. Isto é, ação social é todo comportamento cuja origem depende da reação ou da expectativa de reação de outras partes envolvidas. Essas outras partes podem ser indivíduos ou grupos, próximos ou distantes, conhecidos ou desconhecidos por quem realiza a ação”.
Para Seu Antônio, como seres humanos gozamos do direito de ter todos os defeitos do mundo, mas temos por obrigação corrigir aqueles que impactam na vida alheia.
Agora, articulando as duas ideias, proponho um conceito de educação como um conjunto de ações e atitudes acompanhadas por uma reflexão a respeito das consequências que essas terão sobre a integridade física e emocional dos outros. Essa práxis sinalizaria o caráter do sujeito e seria, talvez, a pedra angular da civilidade.
No Plaza Shopping há um restaurante japonês, o Gueixa, onde tem um rodízio em que as porções são servidas em esteiras duplas, para atender ambos os lados do balcão. O que não falta é gente pegando uma porção da esteira do lado oposto ao seu, antes de chegar ao cliente que está naquele lado do balcão e que, por conseguinte, tem direito àquela porção. Seria incoerente duvidar do caráter desses sujeitos?
O respeito pelo espaço físico e emocional dos outros é, para mim, fundamental em qualquer nível de convivência social. Disse isso em outro post e repito: tem gente que só não está enjaulada por ser bípede e capaz de falar. Chegará o dia em que preferirei o convívio com vacas e porcos - os quadrúpedes, é claro.
3 comentários:
Para mim continua a valer a velha máxima de que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros. Isso sim é sensibilidade e educação, é uma questão de empatia, pena que as pessoas não consigam se colocar na pele dos outros.
PS: Sei que não tem muito a ver, mas ao ler o teu post veio-me à lembrança o excelente filme "Le Goût des autres"! Curioso...talvez porque as relações humanas podem ser fundadas nas mais variadas e expectantes formas ...
antonio, amo cachorro de paixão, mas eu concordo que é o ó do borogodó ouvir latidos em um restaurante ou num bar. criança mal criada também ninguém merece. eu fiquei chocada como o que rola no gueixa. fim de mundo, meu querido.
Achei inteligente sua abordagem da educação. É isso mesmo, filho. Se agirmos sem pensarmos nos outros, somos quadrúpedes.
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