sábado, 5 de março de 2011

Mais uma vez, colombina.


E o carnaval chegou! Inevitavelmente, lembro-me de nossa triste e solitária colombina, que envelhece, ressequida, sem afeto e amor. Seu resquício de juventude ainda a impulsiona a encher a cara de maquiagem e, mais uma vez, fazer de conta que é amada, desejada, querida.


Terá nossa colombina consciência de que o amor e o desejo a ela dirigidos são cobertos por uma densa névoa etílica e viral?
Seria tanta maquiagem capaz de encobrir-lhe as rugas e a maldade, sua vontade de destruir a felicidade alheia?


Colombina, a você, meu silêncio. Deixo-lhe ao encargo do som da bateria, do trio-elétrico, da gritaria. Deixo-lhe com suas marcas de perdas daqueles que partiram atirando-se das alturas. Aqueles gritos silenciosos, sei bem, ainda ecoam em seus ouvidos. Aquele corpo espatifado no chão é o símbolo de sua herança genética de destruição, do ódio e da vingança imbecil e descabida. Está em seu sangue. Uma destrói famílias; outra destrói a si mesma. E você, colombina, já destruída,  correndo contra o tempo já há muito perdido, tenta amortecer a própria queda ocupando-se em tentar destruir a felicidade de outrem.

Minha felicidade, todavia, não depende do som de trios elétricos, tampouco de baterias ensurdecedoras.

Aproveite. Não lhe restam muitos verões, colombina. Falta pouco para que sua invisibilidade ou quem sabe até sua ridícula decrepitude assolem  e lhe aflijam.  

Aproveite as cores, pois na quarta-feira, tudo voltará às cinzas. Tudo cinza nessa sua vida imersa em um lodo de insignificância.

Bom carnaval!

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