1. Fórmula da Paixão:
2. Fórmula do Amor:
Você
não está aqui.
Sua paixão é outra.
Por aqui você orbita.
O corpo aqui, a cabeça lá.
O centro de gravidade que lhe prende aqui, desconheço.
Falta ar neste submarino, o oxigênio está acabando.
Com a cabeça lá, você não percebe nada, não sente nada.
Estou perdido, pois isso aqui tem dois motores e é foda
dar conta de ambos. Sei que não tardará para que sua cabeça,
sem ar, sem oxigênio,
saia por aí à procura
de um bote onde
só caiba
um.
morri asfixiado. eu que me dane.
São fragrâncias. Flashes. Algumas fotos mentais empoeiradas. Outras que parecem ter sido tiradas anteontem. Resquícios ruidosos de um eu que não mais existe em essência, mas que insiste na presença marcada com goivas numa alma outrora ar, hoje madeira. Toco em frente.
Ainda há dias em que o espelho retrovisor incomoda, sobretudo quando é preciso frear no sinal. Vermelho de raiva. Roxo de angústia. Desesperado, quero pisar no acelerador e seguir em frente. Descubro, não obstante, que seguir em frente sempre implicará em checar o espelho retrovisor.
As lentes ardem nos olhos, como se coladas aos globos. As pernas tensas e cansadas do intercâmbio ora a frear ora a acelerar. Os braços querem sucumbir, mas é preciso chegar. A vontade é de parar no primeiro acostamento, mas tenho de prosseguir. Já cheguei aqui, ora essa. O jeito agora é checar o combustível. Será o bastante para lá chegar? Onde, contudo, é lá?
Percebo então que não me deram o endereço. Não tenho bússola, muito menos GPS. Meu Norte é a necessidade de tocar em frente. Esse vazio é a imbecilidade que me acompanha. Sempre caiu-me feito luva. Abro o porta-luvas e pego uma bala de menta. O ardume sobe-me as narinas e chega aos olhos. É quando as lentes quase pulam para fora. E se o fizerem? E se eu não mais conseguir enxergar o caminho à frente? Poderei parar? Será prudente?
Respiro fundo. Não! Não respire tão fundo! Cuidado com a menta! As lentes! O caminho à frente! Cuspa essa droga. Não chupe, cheire. Não! O couro dos assentos. Não é o máximo? Não lhe conferem uma identidade? Quem precisa de Norte quando se tem assentos de couro? Com eles chaga-se ao Sul, ao Leste, impressiona-se no Oeste. Você é alguém. Só não estrague os assentos. E prossiga.
Os objetos no espelho retrovisor sempre parecem mais próximos do que realmente estão. São referências. Apenas. Referências. Talvez mais tarde dê para tentar mais uma balinha de menta.
É.
Cansei
Daquele
Lado de lá
Prefiro este
Aqui, ora pois.
Não
me
peça
para
voltar
pois
meu
canto
é esse
aqui.
Não se preocupe.
É tudo provisório!
Esperei até que ele concluísse aquela longa e minuciosa descrição de técnicas e aparatos para a prática onanística, que envolvia, entre outros, caixas de ovos e rolos de cartolina, e perguntei:
- Meu irmão, qual a fonte de tanta criatividade?
Ao que ele respondeu:
- Cara, na infância, eu não perdia nenhum programa do Daniel Azulay.
Doravante evitarei, a todo custo, lembrar-me da Turma do Lambe-Lambe.
Sabe quando vamos ao banco com a simples tarefa de pagar uma única conta e, ao chegarmos lá, damos de cara com uma fila imensa? É quando começamos a rezar para tudo quanto é santo, anjo e querubim para que não haja officeboys na fila.
No meu caso, em 98 por centos das vezes, há. Os santos, anjos e querubins já até desligaram a conexão direta entre nós quando o assunto é banco. Lá estou eu, com uma porcaria de uma conta que não posso pagar no caixa automático porque a desgraçada só pode ser paga no banco de origem – onde não tenho conta – e, à minha frente, três officeboys – TRÊS! – com vinte e cinco contas em mãos. Os caras chegam a se escorar no balcão entre eles e o caixa que, na maioria das vezes, envolve-se em um papo para velório.
O pior é que este carma parece se estender ao supermercado. Sabe a fila dos frios? Pois é. Eu NUNCA peço mais que dois tipos de frios – queijo minas e peito de peru defumado – até mesmo porque lá não encontro mais nada que eu possa chamar de saudável. À minha frente, tem sempre um(a) desgraçado(a) pronto parta pedir duzentAs gramas (sic) de pelo menos oito itens. Coisas das quais nunca ouvi falar. Outro dia ouvi uma criatura pedir, entre os vários itens bizarros em sua longa lista, duzentAs gramas (sic) de salame siberiano. Siberiano?! Desde quando produz-se salame na Sibéria?! A criatura infeliz conhece salame siberiano, mas não sabe que “grama” como medida é masculino? Não me estenderei nisso, mas tratava-se de uma senhora gorda, dessas que provavelmente se queixam do colesterol.
Não quero tirar o direito de ninguém comprar quantos itens bem quiser, pagar quantas contas precisar ou até falar um português questionável. O que não entendo, entretanto, é por que não se criam filas distintas. Por exemplo, nos bancos, deveria haver um caixa para até duas transações, outro para mais de duas transações. O mesmo no setor de frios do supermercado. Dessa forma poderíamos evitar que a ida ao banco ou ao supermercado fosse um carma para todos.