Não existem grandes complicações no que se refere a dar início a um texto. As ideias transbordam, as palavras fluem, criando períodos, construindo parágrafos. Basta uma boa caneca de café ao lado – sou tão viciado na bebida que a xícara não consegue dar conta –, uma fagulha na cabeça e, é claro, estado de espírito propício para a atividade de elaboração textual, e os dedos vão tocando nas teclas, sapateando como o Astaire.
Eis então que surge um problema. Lá pela metade do texto, quando a ereção ainda está de bom tamanho, isto é, satisfatória, já começo a pensar no gozo. Sim, porque o gozo é sempre o objetivo. Passo a me perguntar: onde é que isso vai dar?
Como de costume, levanto-me da cadeira, dou uma volta pelo corredor, vou até a cozinha, visito o banheiro, de vez em quando dreno as linfas e retorno ao computador.
Fico muito preocupado com o desfecho do texto. Sempre acho que a conclusão tem de estar em sintonia qualitativa com a introdução ou, pelo menos - dado que nem sempre a introdução empolga - com o meio. Penso que o desfecho não pode decepcionar. É como aquelas músicas que acabam em fade. Cristo Rei, como odeio aquele negócio. A impressão que dá é que faltou criatividade, faltaram as notas para encerrar a canção e alguém no estúdio resolveu ir baixando o volume lentamente. Não quero fade. Quero ouvir a última nota que antecede o silêncio. Não quero que o silêncio venha chegando em doses homeopáticas, em fade. Fade! Fade é o cacete! É como reter o gozo, senti-lo se aproximar de leve e, ao ejacular, ter um prazer meia-boca. Sim, porque o prazer já estava vindo, vindo, vindo, e toda aquela energia que minha mente depositara no grande final foi para o saco, ou melhor, saiu dele. Acabo não aproveitando o processo do gozo devido à ansiedade depositada no final. Fazer o quê? Vai ver minha estrutura psíquica seja essa. Talvez eu não seja o cara do processo, na mais pura acepção do termo.
Conto nos dedos os livros que já li cujos finais foram bem amarrados, redondinhos, sem deixar o leitor chateado. Neste setor, tenho como grande referência o grande William Boyd. Boyd sabe dar um desfecho elegante e – queira perdoar a redundância – conclusivo a suas histórias.
Inclinado à auto-análise como sou, sempre me pergunto de onde surgiu esta minha necessidade de finais arrematados. O mais próximo que já cheguei a qualquer conclusão teve a ver com minha cultura telenovelesca. Quando mais jovem fui um ávido consumidor de novelas. Assistia a todas elas: das seis, das sete, das oito e das dez. Os finais das novelas eram sempre bem engendrados, organizados: bandidos presos, mocinhos se casando, todos os elementos obscuros encontrando a luz dos esclarecimentos. É muito provável, então, que eu tenha trazido para minha experiência literária, como leitor e ocasional produtor de textos, as expectativas que aprendi a manter ao desempenhar meu papel de espectador expectador.
Odeio quando não consigo encerrar um texto. Detesto quando, ao final de um livro, o autor deixa na escuridão alguns elementos e não consegue encontrar um desfecho bacana. E, como não é raro que isso aconteça, estou começando a pensar que no trabalho literário o que menos importa é o gozo do final.
Quem sabe, então, o gozo não esteja no final, mas no meio? Ou quiçá no início? E levanto uma nova dúvida: seria minha dificuldade de encerrar um texto uma forma inconsciente de negar o fim? Acho que vou ficando por aqui.
Eis então que surge um problema. Lá pela metade do texto, quando a ereção ainda está de bom tamanho, isto é, satisfatória, já começo a pensar no gozo. Sim, porque o gozo é sempre o objetivo. Passo a me perguntar: onde é que isso vai dar?
Como de costume, levanto-me da cadeira, dou uma volta pelo corredor, vou até a cozinha, visito o banheiro, de vez em quando dreno as linfas e retorno ao computador.
Fico muito preocupado com o desfecho do texto. Sempre acho que a conclusão tem de estar em sintonia qualitativa com a introdução ou, pelo menos - dado que nem sempre a introdução empolga - com o meio. Penso que o desfecho não pode decepcionar. É como aquelas músicas que acabam em fade. Cristo Rei, como odeio aquele negócio. A impressão que dá é que faltou criatividade, faltaram as notas para encerrar a canção e alguém no estúdio resolveu ir baixando o volume lentamente. Não quero fade. Quero ouvir a última nota que antecede o silêncio. Não quero que o silêncio venha chegando em doses homeopáticas, em fade. Fade! Fade é o cacete! É como reter o gozo, senti-lo se aproximar de leve e, ao ejacular, ter um prazer meia-boca. Sim, porque o prazer já estava vindo, vindo, vindo, e toda aquela energia que minha mente depositara no grande final foi para o saco, ou melhor, saiu dele. Acabo não aproveitando o processo do gozo devido à ansiedade depositada no final. Fazer o quê? Vai ver minha estrutura psíquica seja essa. Talvez eu não seja o cara do processo, na mais pura acepção do termo.
Conto nos dedos os livros que já li cujos finais foram bem amarrados, redondinhos, sem deixar o leitor chateado. Neste setor, tenho como grande referência o grande William Boyd. Boyd sabe dar um desfecho elegante e – queira perdoar a redundância – conclusivo a suas histórias.
Inclinado à auto-análise como sou, sempre me pergunto de onde surgiu esta minha necessidade de finais arrematados. O mais próximo que já cheguei a qualquer conclusão teve a ver com minha cultura telenovelesca. Quando mais jovem fui um ávido consumidor de novelas. Assistia a todas elas: das seis, das sete, das oito e das dez. Os finais das novelas eram sempre bem engendrados, organizados: bandidos presos, mocinhos se casando, todos os elementos obscuros encontrando a luz dos esclarecimentos. É muito provável, então, que eu tenha trazido para minha experiência literária, como leitor e ocasional produtor de textos, as expectativas que aprendi a manter ao desempenhar meu papel de espectador expectador.
Odeio quando não consigo encerrar um texto. Detesto quando, ao final de um livro, o autor deixa na escuridão alguns elementos e não consegue encontrar um desfecho bacana. E, como não é raro que isso aconteça, estou começando a pensar que no trabalho literário o que menos importa é o gozo do final.
Quem sabe, então, o gozo não esteja no final, mas no meio? Ou quiçá no início? E levanto uma nova dúvida: seria minha dificuldade de encerrar um texto uma forma inconsciente de negar o fim? Acho que vou ficando por aqui.
Um comentário:
antonio, pra mim o mais difícil é sempre o meio. O desenvolvimento é complicado. Quando eu me sento pra escrever, eu tenho a idéia do início e do final, mas o meio... afff. adorei o texto: bem-humorado e bem escrito. beijokas querido
Postar um comentário