quarta-feira, 3 de março de 2010

Vlw! Depois eu deixo um scrap!





Recentemente um amigo me convidou para ir à festa de aniversário de uma amiga dele, que eu não conhecia. Fiquei curioso para saber um pouco mais sobre a aniversariante e acabei visitando seu Orkut. Tive uma enorme surpresa ao constatar que a garota tem 932 amigos. Novecentos e Trinta e Dois! 932?!
Além de tímido, não sou muito dado a eventos sociais.  Tenho apenas dois grandes amigos com quem me sinto muito à vontade de simplesmente me sentar e beber, ou assistir a um jogo, ou jogar alguma coisa no PS sem ter que conversar sobre nada, a menos que os três estejam verdadeiramente com vontade de falar. Tive uma estranha sensação de que ir à festa seria a grande furada do primeiro semestre de 2010. Acho quase sempre um saco estar no meio de um aglomerado de gente que parece ter o compromisso inexorável de dizer alguma coisa inteligente ou risível. Nesses programas, em geral, formam-se basicamente duas espécies de grupinho: (1) o de pessoas batendo altos papos “cabeça”, discutindo o sexo dos anjos, disputando quem usa o maior número de jargões técnicos e palavras proparoxítonas, e (2) o de pessoas para quem tudo ou qualquer coisa serve de motivo de piada. Em ambos os casos, percebo, o que essa galera está tentando fazer é muito simples: manter a distância.  Analisando-se de longe, vê-se um enorme número de falantes e quase nenhum ouvinte. São muitas bocas para poucos ouvidos.
Imaginei então este cenário duplicado, visto que se tratava de uma garota com 932 amigos no Orkut. Novecentos e Trinta e Dois! Certamente eu deveria esperar uma festa para cerca de 100 no mínimo. A sintomatologia que produzi ao pensar nisso foi desde uma vermelhidão epidérmica à sudorese descabida. Entretanto, meti as caras e lá fui eu.
Tamanha foi minha surpresa ao chegar à festa e encontrar apenas dez convidados. DEZ. 10! “Que dez!”, pensei aliviado, sem deixar, entretanto, de me sentir intrigado com aquilo. Apesar do pequeno número de pessoas, formaram-se os dois grupos supracitados. Resolvi evitar o grupo dos pseudo-intelectuais de óculos com armações pretas, visto que eu não estava muito a fim de avaliar o futuro dos atuais meios de comunicação frente à Transmídia. Cara, adorei a experiência tridimensional de Avatar, mas não me sinto suficientemente inspirado a discutir, numa festa,  a falta de profundidade da narrativa ou a legitimidade do argumento. Eu queria mais era curtir a caipirinha, que estava maravilhosa, e falar sobre os sobressaltos que experimentei durante a projeção do filme, desde os trailers, quando apareceu uma joaninha voando quase que sobre meu nariz.  
A caipirinha foi de grande auxílio no outro grupo, tornando tudo muito mais engraçado do que era de fato. Chegou um momento em que estávamos rindo de nada. Um cara no grupo não conseguia parar de criar piadas. Era uma atrás da outra.
No Blackberry da aniversariante, a cada três minutos chegavam mensagens de felicitações, todas recebidas com enorme animação e devidamente compartilhadas com alguns dos presentes. Algumas das mensagens eram tão fortes e tocantes, que compensavam pela ausência do remetente.
Será que é isso mesmo? Será que o extremo é o que há? Onde está escrito que devo agir como um acadêmico ou um comediante numa festa? Não seria possível falar sobre banalidades, sem medo de parecer o que somos de fato: pessoas comuns? O que significa ter 932 amigos no Orkut, que enchem a caixa de “scraps animados” e o Blackberry com milhares de mensagens do tipo “parabéns pra você”, “você é o máximo”, mas que não se dão ao trabalho de pelo menos pegar a droga do telefone e ligar? Será que tanta transmídia, tantos MSNs, tantos Orkuts e Facebooks estão a serviço da solidão acompanhada?
Não sei. Só sei que ao deixar a festa, eu tinha tomado seis caipirinhas de limão, passado meu MSN para cinco – que gostariam de continuar a gargalhar de longe – e pensado três vezes, durante a “conversa”: “ainda bem que não estaremos juntos quando o riso acabar”. 


9 comentários:

nina disse...

Lá está Antônio, um assunto com que tantas vezes me debato nas minhas cogitações...
No fundo, bem no fundo no pulular de tanta tecnologia de comunicação e informação, nunca estivemos tão sozinhos como agora!
Estamos e somos sós...

nina disse...

PS: Como seria bom no di-a-dia estarmos apenas a 30 cm do chão :)
Beijo grd

Anônimo disse...

Antonio...
belo texto...adorei ler...e pensar sobre ele...parece que os valores do mundo estão realmente trocados...amigo não é mais aquele que acolhe e partilha...o legal hoje não é ter um bom e velho amigo...aquele companheiro...hoje o legal é ter 932 amigos que você nem conhece...Não é terrível?
Uma pessoa possui msn, recebe sms, tem orkut, hi5, facebook...e ela só está exposta em mais lugares...para ser rejeitada e se esconder em mais lugares ainda...
Hoje é difícil quem pega o telefone e liga...aliás o celular não é nem sequer um telefone...usado para se falar e escutar a voz do outro...é espelho, rádio, bip, gps...enfim...
Mas tem coisas que gosto...por exemplo poder ler textos como o seu...Um homem que observa uma joaninha, sai, conversa e bebe as suas SEEEIS caipirinhas...
Beijo
Leca

Leandro blogger disse...

Voce realmente tem um mundo bem agitado meu caro, também não sou muito dado a eventos sociais, mais curto um festa com os amigos e alguns desconhecidos só para dar um toque a mais a festa, eu acho que eu não me encaixo em nenhuma daquelas opções sua sobre os “grupinhos” de pessoas, devo ser mais estranho que eu imaginava ( sou um cara de poucos palavras) não mal humorado . mais no mais acho que sua festa foi animada, ate consegui passar seu msn para metade do publico da festa, foi proditivo rsrs.Mais a caipirinha ,ummm, pareceu ser a melhor parte.

Ana Carolina Dias disse...

kkkkkk rachei de rir com sua história, antonio. eu conheço muitas pessoas que têm milhares de amigos no facebook mas são solitárias, querido. eu tmb adorei a joaninha do trailer antes de avatar! beijokas

Nalva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nalva disse...

Acho que essa história de msn, internet e tal, é uma faca de dois gumes...
Ao mesmo tempo que aproxima, distancia as pessoas.
Ela possibilita estarmos a um clique de distância da pessoa, que ás vezes, muita gente supervaloriza essa rapidez, num mundo como o de hoje, tão imediatista. Mas como digo sempre, que não há tecnologia que supere o abraço, o contato, a roda de cerveja com amigos no boteco, o vídeo game em silêncio...Amigo de verdade tem que estar a um braço, e não a um clique de distância!
Beijo!

Anônimo disse...

Gente... isso ´que é uma câmera poderosa e criatividade absurda né? Adorei!

Mendigo Intelectual disse...

vc é muito louco, é o típico cara contemporâneo, muito bom seu texto, eu é q sei dessas festas, ja fiz todos esses papéis supracitados e depois de tudo soa até engraçado ..tudo isso..

ñ sei o q vai ser desse mundo
ainda mais com a chamada Singularidade Tecnológica para daqui a alguns anos ou décadas...