sexta-feira, 5 de março de 2010

Se beber, não dirija.


- Caiu um mosquito no seu copo.
- Oi?
- Um mosquito. À essa altura já se afogou na sua cerveja.
- Tá falando sério?
- E eu lá tenho cara de quem brinca com uma coisa dessas?
- Como assim, "uma coisa dessas", cara? Foi só um mosquito.
- Só? Se você conseguisse ouvir os gritos dele ao se afogar nesse poço de álcool, não diria isso.
- Por acaso VOCÊ ouviu? Ouviu o imbecil gritando?
- Ouvi sim. Com o ouvido da alma.
- Nossa, que alma nobre! Só falta agora você me dizer que seu anjo da guarda é um pernilongo.
- Como posso saber? Nunca o vi.
- Nem com os olhos da alma?
- A alma é cega, rapaz.
- Pobre alma. Bom, pelo menos ela escuta né?
- Sei lá!
- Peraí... você não acabou de dizer que sua alma OUVIU o desgraçado do mosquito gritando cerveja abaixo?
- Foi metáfora, cara, Me-tá-fo-ra, saca?
- Só não mando você meter essa me-tá-fo-ra por entre o desfiladeiro de sua retaguarda em respeito a esse mosquito que, segundo você, acaba de morrer em meu copo.
- Ah, então você agora acredita no destino infeliz desta criatura.
- ...
- Você vai beber?
- O quê? A cerveja? Pirou? Então você acha que vou beber esse troço com esse cadáver boiando?
- Cara, você nem olhou pro copo ainda. O mosquito afundou. Não tá boiando, não.
- Você beberia?
- O quê? A cerveja? Não. Vai que eu engula o morto e herde seus carmas.
- Ah, essa agora. Carma. Vai com carma, meu amigo. Muita carma nessa hora!
- Você acha tudo muito divertido né? Não leva nada a sério.
- Ah, meu amigo, não vou ficar aqui escutando você filosofar sobre o carma dos insetos. Vou deixar você com seu carma e vou pra minha cama. Fui. Aí. Dez paus. Paga minha parte. Pode ficar com o troco.
- ...
- ...
- Inté!
- Ih, rapá...
- O quê foi?
- Acho que o rio que passa por entre o desfiladeiro de SUA retaguarda transbordou.
- Putz... tá de carro aí? Dá pra me dar uma carona?
- Tô, mas vou pegar um táxi.
- Pirou? Por que, maluco?
- Maluco, eu? Você passa a noite sentado num banco molhado, depois quer uma carona com um cara que ouviu os gritos de um mosquito e EU é que pirei? Fala sério.
- Putz... só dá maluco.

7 comentários:

Ana Carolina Dias disse...

geeeentee, acabei de ler uma conversa de bêbado, literalmente kkkkkk. antonio, querido, isso aconteceu mesmo ou é fruto de sua imaginação fértil? beijokas

Leandro blogger disse...

Só você mesmo para criar uma coisa dessas , kkkk. mais aqui isso foi de verdade?

Antônio Moura disse...

Ana e Leandro: essa história é baseada em fatos. Aconteceu comigo e um amigo. Abração aos dois e obrigado por seguir os posts.

Anônimo disse...

Antonio...
"ouvido da alma" é demais...
adorei..."a alma é cega"...
adorei...metáforas...
adorei o texto todo...
engraçado...e rápido...
humor rápido e inteligente...
adorei...
beijo
Leca

nina disse...

Um texto muito engraçado que me fez (sor)rir muito.
Adorei estas "conversas filosóficas de bêbados" :D
Bjo

Barbara disse...

Mosquito dependente de álcool.

gaijin dame disse...

caro amigo... desisti de algumas coisas já faz algum tempo... amar é uma delas... mas é sempre bom escrever sobre isso... não sabe como me sinto bem mais leve e livre sem tal sentimento...