Valeu, pai!
“Rapaz, hoje assim, do nada, eu me lembrei da primeira vez que você me deu a mão para atravessar a rua. Com o rosto vermelho feito um pimentão, obedeci e paguei aquele mico. Bem em frente à escola. ‘Fala sério!’, pensei. Um tempo depois, você virou para mim e disse que era para eu olhar atentamente para um lado e para o outro, e dessa vez não me deu a mão. Comecei então a atravessar sem a sua ajuda. Essa foi apenas uma dentre as várias conquistas que fui alcançando a partir de sua orientação preocupada, sincera e terna.
Daí eu me lembrei do dia em que a professora me chamou para resolver aquela equação no quadro, pela segunda vez. A primeira tinha sido aquele desastre, mas você pegou no meu pé e passou o final de semana inteiro estudando comigo. A segunda, tirei de letra. Molinho! Com todo o orgulho, virei para a professora e disse:
- Foi meu pai que me ensinou.
E agora, vejo que não foi só eu quem pagou mico ou fez sacrifícios. Afinal, quem era a figura que colocava aquela fantasia vermelha, carregando um saco ridículo no Natal? Hoje entendo o brilho nos olhos do falso velhinho ao ver o meu rosto radiante.
E quem não conseguia assistir ao Globo Esporte até o fim? Eu, que havia adormecido ali no seu peito, acordava com a cabeça no travesseiro ao som do pa pa pa pa pa pa pa... Já não sentia mais o calor do seu peito que embalava o meu sono. Afinal, você tinha que voltar para o trabalho. Do contrário, o velhinho do saco não conseguiria me dar aquela bicicleta tão sonhada.
Como posso lhe agradecer por tanto, meu pai, meu companheiro, meu melhor amigo? Sabe, às vezes dá saudade de ter a sua mão para atravessar a rua. Caramba, como é bom ter alguém que nos guie como você me guiou! Volta e meia eu bem que gostaria de ter você pegando na minha mão ou no meu pé. Só que eu cresci, cara! Não tem cabimento! (Coisa nenhuma! É tudo pose!).
É muito bom ser filho. Melhor ainda, foi maravilhoso ser seu filho. Valeu, pai! Você foi dez!”
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