domingo, 10 de agosto de 2008

Sexo, traição e milkshake

“-Alô, Pedro?
- Isso.
- Oi, é a Patrícia.
- Patrícia, minha gata, o que tá pegando? Você sumiu! Agora que a relação tava ficando mais gostosa...
- Pedro, tenho uma coisa pra te contar. Acho melhor você fazer um exame de sangue.
- Como assim? O que houve? Você tá doente?
- Olha só, não é nada grave, mas acho melhor você se cuidar. Hoje descobri que estou com clamídia.
- Que diabos é isso?
- Não sei explicar. Só sei que se você não cuidar, vai arder muito a sua uretra quando você for urinar.
- Ishi! E como você pegou isso?
- Não sei, gatinho. Acho que foi com meu marido. Ele deve ter pego com alguma vagabunda. Depois a gente se fala melhor. Vê se te cuida. Beijo.”




Não creio que a fidelidade faça parte do projeto básico da natureza humana. Acho que todas os dias faço uma opção por ficar com minha gata. É a única gata nesta cidade? Claro que não. Entretanto, é a gata com quem durmo. É a gata que deixa seu cheirinho na minha cama. É como ir ao Bob’s e pedir um Ovomaltine e de repente ver alguém passando com um shake de morango, que também é uma delícia. Fudeu. Tarde demais. Já paguei pelos 250 ml de Ovomaltine e não dá pra tomar os dois só porque são deliciosos. Se eu tomar os dois, o resultado não pode ser dos melhores: excesso de calorias, estômago alto, taxa de glicose elevada... Não posso deixar de admitir que o shake de morango é maravilhoso, só que muito obrigado, já paguei pelo Ovomaltine. Deixa pra próxima.
Acho essa história de amante extremamente cafona. Uma volta, pelo túnel do tempo, aos anos oitenta. Na época devia ser gostoso ter segredinhos idiotas, receber telefonemas escusos, sinais criptográficos... acho que a galera brincava de 007, sei lá. Acho mais moderno ser um cara livre. Ainda mais hoje em dia, quando alguns casais vivem relações abertas. É muito mais honesto, mais bacana. Porém, já percebi algumas pessoas se contorcendo quando eu disse que não traio. Parece que a fidelidade é um assunto muito mais delicado do que a infidelidade. Parece que o clube dos infiéis é tão numeroso em sócios que quando alguém se mostra contrário à prática, é taxado de hipócrita ou, como ouvi ontem de um grande amigo, “pretensioso”. Pois é. Tenho de fato a pretensão de me satisfazer com um Ovomaltine até a última gota e esperar uma próxima oportunidade para, quem sabe, tomar um shake de morango. Nada, entretanto, me impede de admirar e admitir a delícia do vermelhinho enquanto me delicio com o marronzinho. E a grande vantagem disso tudo: sem calorias em excesso, sem dores de cabeça, dores na consciência...

2 comentários:

Heitor Nunes disse...

Estamos todos nos contorcendo, amigo... É uma corajosa maneira de encarar a vida a dois. Diria até que é uma forma que anceio alcançar, um dia.

Abraço!!

lu disse...

Virginianos... Temos essa tendência, incompreendida por tantos, de preferirmos bens duráveis como relações verdadeiras e móveis de madeira maciça...