terça-feira, 24 de junho de 2008
O ponta-pé inicial
Vim de uma cidade com muitas ladeiras e poucos morros. Quando cheguei aqui, a primeira coisa que chamou minha atenção foi essa topografia sensual, cheia de movimentos, curvas, ziguezagues, baías, espelhos d’água refletindo esse teto que quando acinzenta-se, entristece as minhocas. Ah, Rio de Janeiro! Que coisa mais linda é você. A garota de Ipanema é um símbolo perfeito de sua beleza. Só que você não deixa de ser puta, também! Quanto mais abonada a conta corrente do visitante, mais ardentes seus afagos. Dou-lhe um desconto. Ninguém é perfeito. E aguardo um desconto substancial para poder trepar nesse pão doce de bondinho toda semana. E quando lá em cima eu estiver, semanalmente, lambendo os lábios, prometo sussurrar-lhe no ouvido que és maravilhosa! Que apesar dos pontos brilhantes que hoje cobrem seus morros muito mais do que há vinte e dois anos, você ainda me encanta.
Muitas coisas me encantam. Um gol do Vasco é sempre encantador. Presenciado ao vivo, então, parece uma experiência celestial. Entrar e sair do estádio, ganhando ou perdendo, sem ver a cara do Miranda, é um presente irrecusável. São Januário acolhe, com seu campo sorridente, qualquer um que se encante com uma bola rolando em seu gramado e um bando de marmanjos com sede e fome de gol. Os dezoito da combi que me perdoem, mas de qualquer ponto do São Januário as linhas de campo permanecem no campo de visão do torcedor doido pra marcar encima do árbitro, quase sempre energúmeno e tendencioso (palavras neuróticas de um pensamento obsessivo). O São Januário não precisa de aumentativos. Não é o Januarião. É simples e honestamente o São Januário. Roguem para que a combi não vire e para que dessa vez não abram a “Cobal do Engenho”.
Tenho pensado nas engenhosas letras dos engenheiros que, entre outras coisas, acompanharam-me na adolescência. E lá estou eu, novamente falando de montanhas! Só que os caras estavam muito além das montanhas (peço licença aos primos haitianos), metendo o ferro no sistema capitalista. O mesmo sistema do qual eles mesmos usufruem até hoje. Mas, éramos todos adolescentes, vai! E depois, os caras não ficaram só no alto da montanha! Desceram e me presentearam com a trilha sonora para meu bolero inebriante com minha primeira grande paixão, homônima do refrão: Ana! A Ana que eles apagaram do refrão e que jamais apagarei de minhas memórias. Por onde andarás tu, Ana?
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